Morreu hoje no Rio de Janeiro vitimado por complicações causadas pelo novo coronavírus, o grandissímo compositor e escritor Aldir Blanc. Filho do bairro do Estácio, o compositor chegou a se formar em medicina com especialização em psiquiatria, mas largou a área da saúde mental quando em 1974 perdeu duas filhas gêmeas que haviam nascido prematuras, com a perda precoce das filhas Aldir Blanc desiste da carreira médica, "se não posso salvar minhas filhas, essa profissão não é pra mim".
A partir dai o mais suburbano dos poetas cariocas cai de cabeça na carreira de compositor e escritor, junto do oficio de escrever grandes canções, Aldir era também um dos colaboradores do Pasquim, suas crônicas são lembradas até hoje pelos nostálgicos leitores do jornal. Ainda na primeira metade dos anos setenta conhece aquele que seria seu mais importante parceiro musical, João Bosco. Os dois foram parceiros em canções que se eternizaram na voz da Rainha da MPB, Elis Regina. Quem não se lembra de "Mestre Sala dos Mares", "Na Transversal do Tempo" e a eterna "O bêbado e o Equilibrista".
Aldir Blanc era um frequentador assíduo dos botecos do Rio de Janeiro, oficio esse que se iniciou ainda na juventude. A parceria com João Bosco passou por um hiato de alguns anos vindo acontecer novamente em 2010. E foi nesse ano que Aldir descobriu que tinha diábetes tipo 2, desde então pouco saia de casa, mas a produção de letras para diversos parceiros continuou a todo vapor, como por exemplo a belíssima "Resposta ao Tempo", composta para a voz de Nana Caymmi.
O Brasil perdeu hoje um poeta incrível que tinha na sua simplicidade e inteligência uma marca pessoal intransferível, como imaginar a boêmia do Rio de Janeiro sem a figura tenra do poeta das esquinas, das mulatas, do futebol e dos botecos mais aconchegantes da Cidade Maravilhosa. Morreu hoje Aldir Blanc aos 73 anos, com isso nosso arte e nossa cultura fica um pouco mais sem graça, com a ausência da genialidade dos seus versos.
(*) Natanael Castro, editor.
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