A pandemia deflagrada pelo novo coronavírus, vem devastando de forma ininterrupta diversos matizes da sociedade organizada a nível mundial. É fato que a retomada de muitas atividades terão uma velocidade muito aquém da mesma imposta pelo covid-19. No Maranhão além da grande maioria das atividades afetadas, uma por ocasião do vírus, foi agravada profundamente, visto que já caminhava a passos de tartaruga havia décadas.
Antes de entrar de fato no território devastado da nossa atual cena cultural. Precisamos viajar um pouco no tempo, a cultura e o Estado do Maranhão estão intimamente ligados desde a chegada descobridores por aqui. Há relatos de que os primeiros comandantes europeus a tomar as rédeas da capital São luís, eram homens de estatura intelectual comprovadas, tanto do lado francês, quanto do lado português. O ponto de partida de nosso reconhecido protagonismo na cultura brasileira, sim ela existe isso é fato, se dá com o aparecimento ainda no século XIX de Gonçalves Dias. Filho de pai português com uma brasileira, o magistral poeta e escritor é o ponto inicial não só da nossa cultura, como também da poesia e literatura brasileira, a envergadura do literato, o coloca no ponto alto do pantheão literário tupiniquim, por ser de fato o maior daquela época, permanecendo na lista dos grandes até os dias atuais.
No pós aparecimento de nosso poeta maior, o Maranhão permaneceu parindo nomes de incontestável valor literário, figuras como João Lisboa, Odorico Mendes, Sotero dos Reis, Antonio Henriques Leal, mais a frente, temos integrando o grupo de literatos que fundaram a Academia Brasileira de Letras, cinco nomes do Maranhão, Aluizio Azevedo, Artur Azevedo, Coelho Neto, Graça Aranha, Raimundo Correia, ou seja, o Maranhão teve o maior grupo de escritores representando um estado da federação na fundação da Academia. A riqueza cultural desse solo, se espalha por outras vertentes, como a pintura, as danças, o teatro, o artesanato, o cinema e claro nossa música. O Maranhão é reconhecido por obter uma das maiores diversidades rítmicas do país, são um pouco mais de 400 ritmos catalogados.
Ao que se deve a profunda crise que a nossa Cultura vive ininterruptamente? A crise cultural, que assola nossa realidade, teve seu aprofundamento, logo após a saída dos escritor José Sarney do Governo do Estado no inicio da década de 70. A gestão que teve como vetor os avanços que trouxeram crescimento e progresso ao estado que a época sobrevivia de atividades pastoris. Com a sua saída os nomes que o sucederam afetaram fortemente, educação e economia. Com a ausência desses dois pontos importantes, a cultura passou a ser relegada a segundo, terceiro plano, desde então a mesma é usada constantemente como massa de manipulação politica. Aquilo que responde por nossa maior riqueza e talvez uma das mais punjantes do país, é manipulada por entes politicos como moeda de troca, sempre visando apoio e votos, levando o projeto cultural a algo muito pequeno.
Diferente de Cidades e Estados que verificam em suas culturas um grande vetor de crescimento econômico e social, no Maranhão a cultura é tratada anos após anos de forma esporádica, ou seja, temos cultura no Carnaval e no São João. Nesse momento de pandemia, a situação agravou-se ainda mais, uma dezenas de artistas, estão por conta do isolamento, impossibilitados de exercer suas atividades, aquilo que já era meio ocasional, agora se encontra como algo inexistente. O atual projeto de governo que responde pelos rumos do estado a dois mandatos, ao que nos parece, demonstra pouca ou nenhuma sensibilidade com esses entes culturais, nesse período do ano os grupos de Bumba Meu Boi, Cacuriá, Tambor de Criola, Quadrilhas e outros já estariam realizando apresentações, é bem verdade que a exigência sanitária tornou o São João inviável pela primeira vez na história do Maranhão, mas se a cultura gozasse de respeito e devido reconhecimento do Governo do Estado, no tocante a políticas culturais, o estrago seria com certeza bem menor. Mas o que esperar do atual governo, que no inicio das atividades acabou com os dois grandes concursos literários do estado, sem nenhuma alegação, se é que pode existir alguma alegação aceitável pra acabar com algo que sempre divulgou e disseminou nosso maior símbolo, nossa literatura, nossa cultura.
(*) Natanael Castro, editor.
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