Infelizmente, a pandemia de coronavírus reduziu a música ao vivo de hoje a janelas pouco lisonjeiras que se parecem com imagens de câmeras de segurança, e soam como as transmissões distorcidas de Neil Armstrong da lua, de tão gaguejadas e compactadas. É o suficiente para fazer Max Headroom parecer realista. Não me interpretem mal, posso lidar com a monotonia e a culinária limitada da quarentena (minha lasanha está no ponto!), e sei que aqueles de nós que não precisam trabalhar em hospitais ou entregar pacotes são os sortudos, mas ainda assim, estou com fome de um grande e velho prato de rock and roll, suado e triturado, o mais rápido possível. Do tipo que faz seu coração disparar, seu corpo se mexer e sua alma se agitar com paixão.
Não há nada como a energia e a atmosfera da música ao vivo. É a experiência mais afirmativa da vida: ver seu artista favorito no palco, em carne e osso, e não uma imagem unidimensional brilhando em seu colo enquanto você percorre o YouTube à meia-noite. Até nossos super-heróis mais amados se tornam humanos quando os encontramos pessoalmente. Imagine estar no Estádio de Wembley em 1985, quando Freddie Mercury subiu ao palco para o show do Live Aid. Pra sempre considerada como uma das performances ao vivo mais triunfantes de todos os tempos (apesar de seus meros 22 minutos), Freddie e o Queen conseguiram nos lembrar que, por trás de todo deus do rock, há alguém que coloca seu bracelete cravejado, sua regata branca absurdamente apertada, seus jeans stonewashed – uma perna da calça de cada vez – como todos nós. Mas não foi necessariamente a mágica musical do Queen que fez história naquele dia. Foi a conexão de Freddie com a plateia que transformou aquele estádio de futebol em ruínas em uma catedral sônica. Em plena luz do dia, ele majestosamente fez de 72.000 pessoas seu instrumento, juntando-se a elas em uníssono harmonioso.
Como frequentador de concertos ao longo da vida, conheço bem esse sentimento. Eu mesmo fui pressionado contra o frio alambrado frontal de um show de rock na arena. Eu “toquei bateria” no ar junto com minhas músicas favoritas e fui esmagado na multidão, dançando sob perigosos níveis de decibéis enquanto me perdia no ritmo. Fui elevado e levado ao palco por um bando de estranhos para depois mergulhar gloriosamente de volta ao seu abraço suado. De braços dados, cantei com meus pulmões a toda, com pessoas que talvez nunca mais eu veja. Tudo para comemorar e compartilhar o poder tangível e comunitário da música. Quando você tira a pirotecnia e os confetes de um show de rock de arena, o que resta? Apenas … pessoas?
(…) No mundo atual de medo, inquietação e distanciamento social, é difícil imaginar compartilhar experiências como essas novamente. Não sei quando será seguro voltar a cantar de braços dados a plenos pulmões, corações acelerados, corpos em movimento, almas repletas de vida. Mas sei que faremos novamente, porque precisamos. Não é uma escolha. Nós somos humanos. Precisamos de momentos que nos garantam que não estamos sozinhos. Que nós somos entendidos. Que somos imperfeitos. E, o mais importante, que precisamos um do outro. Compartilhei minha música, minhas palavras, minha vida com as pessoas que vêm aos nossos shows. E eles compartilharam suas vozes comigo. Sem aquela platéia – aquela platéia estridente e suada – minhas músicas seriam apenas um som. Mas juntos, somos instrumentos em uma catedral sônica, que construímos juntos noite após noite. Uma catedral que certamente construiremos novamente.”
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https://www.theatlantic.com/culture/archive/2020/05/dave-grohl-irreplaceable-thrill-rock-show/611113/
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